Pesquisa expõe contradições e desinformação da população sobre a COP30 com sede no Brasil
Brasileiros demonstram desconhecimento sobre a COP 30, que será realizada em Belém.

A quatro meses da realização da COP30 em Belém, Pará, 71% dos brasileiros ainda não sabem o que é o evento, a principal conferência sobre mudanças climáticas do mundo.
É o que revela a pesquisa “Protagonismo do Brasil na COP30 – Brazil Forum UK”, divulgada inicialmente pelo jornal “O Globo”.
O levantamento, que ouviu 1.502 pessoas das cinco regiões do país, aponta também que a pauta ambiental tem pouca relevância na decisão de voto e gera polarização política.
Desconhecimento e contradições sobre a COP30
A pesquisa, realizada pelo Ideia Instituto de Pesquisa e pelo instituto LaClima, abordou diversas perspectivas sobre o meio ambiente.
Questionados diretamente se sabiam o que era a COP 30, 71% dos entrevistados responderam “não”, enquanto apenas 29% afirmaram conhecer o evento.
Para Cila Schulman, CEO do Ideia Instituto de Pesquisa, esse dado revela um “distanciamento entre os grandes eventos climáticos e a população em geral”.
Ela argumenta que a sigla, embora comum em ambientes técnicos, ainda não faz parte do vocabulário cotidiano dos brasileiros, indicando falta de ambição política e comunicação estratégica para o país liderar a agenda climática.
Curiosamente, em perguntas posteriores, a maioria dos entrevistados demonstrou algum conhecimento sobre o evento: 78% sabiam onde a COP 30 seria realizada (Belém) e 72% acreditavam que o evento teria impacto na luta contra as mudanças climáticas.
Schulman sugere que essa aparente contradição pode ser explicada por associações com notícias esparsas ou campanhas que mencionaram palavras-chave sobre a COP.
“Não se trata necessariamente de lembrança verdadeira, mas de um processo de dedução a partir do contexto da entrevista”, explica, reforçando a necessidade de campanhas mais claras e pedagógicas que expliquem não só o que é a COP 30, mas por que ela importa para a vida das pessoas.
Flávia Bellaguarda, diretora-presidente do instituto LaClima, vê como um bom sinal o fato de muitas pessoas saberem que a COP será no Brasil, mesmo que não compreendam totalmente seu significado.
Ela destaca a importância da mídia em abordar o tema diariamente, com breves explicações sobre o que a COP significa, ressaltando que “uma COP com participação popular é fundamental para que agendas necessárias, como a agenda de adaptação, ganhem ainda mais relevância política”.
Consciência ambiental sem urgência política
A pesquisa também revelou que o Brasil possui consciência ambiental, mas ainda não tem urgência política. Segundo Schulman, esse é o principal resultado do levantamento.
Para 52% dos entrevistados, a sociedade está mais consciente sobre a importância do meio ambiente em comparação a 20 anos atrás. Além disso, 66% afirmaram que a degradação ambiental afeta sua vida econômica e 58% disseram que a pauta ambiental de um candidato aumenta suas chances de voto.
No entanto, o meio ambiente foi apenas o sétimo tópico mais relevante para a definição de voto, ficando atrás de combate à corrupção, saúde, educação, economia, segurança e combate à fome.
“O Brasil tem consciência ambiental, mas ainda não tem urgência política. Essa é a principal encruzilhada revelada pela pesquisa, e a principal oportunidade para lideranças que souberem ocupar esse espaço com credibilidade, linguagem acessível e visão de futuro”, pontua Schulman.
Flávia Bellaguarda enfatiza a necessidade de uma mudança de perspectiva sobre a pauta ambiental, que deve ser transversal a toda a estrutura da sociedade.
Ela ressalta que “sem ar puro, água potável e solo fértil, todo o sistema colapsa” e que as consequências das mudanças climáticas, como as enchentes no Rio Grande do Sul e as secas no Amazonas, escancaram a ineficiência e a falta de ação governamental.
Pauta ambiental polarizada e desafios políticos
A pesquisa também evidenciou a polarização política em torno da pauta ambiental. O governo federal, que tem adotado o tema como prioritário, foi considerado o “principal vilão do meio ambiente no Brasil” para 40% dos entrevistados, superando até mesmo o setor industrial (30%).
Apenas 29% acreditam que o Brasil “está agindo para solucionar as crises climáticas no país”, contra 49% de respostas negativas. A pergunta “O governo brasileiro está comprometido com a proteção do meio ambiente?” apresentou a maior divisão: 41% responderam “sim” e 40% “não”.
Cila Schulman explica que “o meio ambiente é uma pauta altamente polarizada e, por isso, difícil de traduzir em ganho político”.
Ela cita como exemplo a Alemanha, onde a tentativa de proibir aquecedores a gás em favor de sistemas sustentáveis gerou forte rejeição e afetou a popularidade do governo.
“Mesmo quando bem intencionadas, políticas ambientais precisam considerar os impactos sociais para não gerar reação negativa”, alerta.
Principais resultados da pesquisa:
“Sabe o que é COP30?”: 71% não / 29% sim
“(Sabe) Em qual país será realizada a COP 30?”: 78% sim / 22% não
“COP 30 tem impacto na luta contra as mudanças climáticas?”: 72% sim / 20% não
“Governo brasileiro está comprometido com a proteção do meio ambiente?”: 41% sim / 40% não
“Brasil está agindo para solucionar as crises climáticas no país?”: 29% sim / 49% não
“Principais vilões do meio ambiente no Brasil”: 40% governo federal / 30% setor industrial / 23% prefeituras / 22% sociedade civil / 20% governos estaduais
“Degradação do meio ambiente e impacto na sua vida financeira”: 66% afeta a vida
“Principal impacto da degradação do meio ambiente em suas finanças”: 38% aumenta preço dos alimentos / 29% aumento das tarifas de itens essenciais (energia elétrica e água)
“Países ricos e grandes empresas devem ser mais cobrados do que países pobres sobre os cuidados com o meio ambiente”: 67% sim
Fonte: Jornal O Globo
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